De umas leituras antigas me lembro de uma afirmação que me norteou a vida toda. A falácia da neutralidade esconde, sempre, um apoio implícito ao status quo, isto é, a concordância, ou pelo menos a aceitação, da situação vigente. Ora, seres humanos, que somos, estamos condenados à liberdade (Sartre), que, por sua vez, implica responsabilidade. Sujeitos de nossa própria história, abdicar de uma tomada de posição não é só covardia, muito mais que isso, é declarar-se satisfeito com o existente. Ou, em outras palavras ducor non duco. Este assunto me ocorre porque neste fim de semana fui acusado de, em meu último romance, O casarão da rua do Rosário, ter assumido uma posição política de um grupo de personagens em detrimento de outro. O autor da acusação me queria neutro.
Ah, meu caro, nem o Roland Barthes acreditava mais no “grau zero da escrita”. A pretensa neutralidade da arte é pura escamoteação. Não existe, a não ser no pensamento ingênuo de algumas pessoas.
Mas preciso dizer mais. Não sou a favor da arte como panfleto, não sou a favor da arte utilizada pelo poder seja ele qual for. Mas não existe arte que não seja a cosmovisão do artista. Caravaggio foi barroco porque não viu o mundo como este era visto por Leonardo da Vinci. Ele pintou como entendeu o mundo. Castro Alves não vituperou a escravidão apenas como desfastio. Mas que digo eu, isso já é radicalizar o argumento. A poesia de Lord Byron, por acaso, não é a expressão de sua visão do mundo? Alguém já fez arte contra seus princípios (morais, políticos, religiosos)? A leitura profunda de qualquer objeto artístico vai sempre encontrar uma maneira especial de encarar o mundo.
Menalton Braff
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